terça-feira, 7 de outubro de 2008

Kenaz / Kusma / Cén / Kaun

Repare na semelhança entre o Nórdico Clássico “Kaun” (pronuncia-se “Kôun”) e o inglês moderno “Know”. A partir daí se desenvolve o sentido desta runa. Mas além de “conhecimento”, ela também significa “tocha” e “farol”.
Seu desenho é a irradiação luminosa de uma tocha/farol. Não é uma luz que vem de cima, mas sim do próprio mundo. É a luz interior do ser humano, as habilidades e as técnicas. Esta é uma runa primordialmente mercurial.
Ela mostra o homem como descendente dos deuses, portador de sua própria luz e capaz de iluminar Midgard, o mundo físico. Mostra também a responsabilidade de se passar a tocha adiante. Assim ela se torna os processos de Ensino e Aprendizado, e nessa face ela se encontra na reunião de kins (“parentes”, irmãos de sangue ou de armas) no kindred (“tribo”, grupo sócio-cultural). Porém apesar disso ela ainda é essencialmente individual, cada um carregando sua pequena tocha.
O poder de criar a própria realidade, o poder da luz. Clareza de pensamentos, consciência do eu interior.
Na divinação, é a abertura de novas opções, ou o clareamento do caminho trilhado, afastamento da dúvida e do medo.
No jogo de simetrias, Kenaz é oposta a Ehwaz. Enquanto a primeira é o controle adquirido através da habilidade e da técnica, a segunda é o controle adquirido através da união e da confiança mútua.
No 1º Aett, a família de Frey, Kenaz representa o Controle das Energias, assim como a Sabedoria em sua aplicação. É um dos poderes que o mago deve desenvolver em si mesmo.
Kenaz pertence à sexta Coluna, que é a das forças e dos lugares ocultos. É o poder oculto da criação, enquanto Perthro representa as forças ocultas do poço de Wyrd e Ingwaz o poder enviado a domínios ocultos para o benefício da criação.
Interessante isso de que a luz seja o poder oculto da criação. Mas isso só é oculto porque as pessoas não querem ver. Dá-se crédito demais a um Deus lá encima e de menos a nós mesmos. Quem descobre este segredo se torna um Mago. O poder oculto da criação somos nós mesmos e nossas ações, enquanto olhamos as estrelas à sua procura.

Do Poema Rúnico:
“A tocha é conhecida pelos homens vivos
por sua chama fraca e brilhante.
Ela está sempre acesa quando jovens se reúnem.”

Raidho / Raidha / Rádh / Reidh

Raidho, na língua antiga, tem dois sentidos básicos: Cavalgar (que dá origem ao inglês to ride) e Carro/Carroça. Os dois têm ligação com viagens... e é por aí que vai esta runa. Seu desenho , se girado, , lembra justamente a forma de uma carroça.
Mas não apenas isto... como no cavalgar, Raidho implica em ritmo. Não qualquer movimento, mas o movimento rítmico, harmônico.
E no sentido de ritmo, ela leva ao equilíbrio entre o ritmo pessoal (interno) e o ritmo do ambiente (externo). Isso nos leva à velha relação Liberdade versus Responsabilidade. Raidho é a runa de nossa convivência com os outros. É a runa do ideal da sociedade Viking, onde todos assuntos de interesse do vilarejo eram discutidos e decididos na Althing (ou, simplesmente, Thing) em democracia direta. Sendo cada um responsável pelo seu próprio caminho na vida, dirigindo o destino e sendo levado por ele – como um cavaleiro em seu cavalo.
É a Jornada Solar, a viagem pelos limites de sua consciência, para melhor conhecer esses limites e assim superá-los.
Raidho pertence ao primeiro Aettyr, a família de Frey. Dentre todos os poderes que o mago deve desenvolver em si, ela representa o Ritmo/Harmonia.
No jogo de simetrias, é oposta a Mannaz. Enquanto Raidho representa a estrutura da sociedade, Mannaz representa a estrutura do ser humano em sua individualidade.
Raidho pertence à quarta coluna, que é a Coluna das Jornadas. Enquanto esta é a Jornada Solar, Eihwaz é a Jornada Mística e Laguz a Jornada Aquática.

Do Poema Rúnico:
“Cavalgar parece fácil para as pessoas, quando estão em casa
e é bastante audaz aquele que atravessa as estradas
montado em um robusto cavalo.”

Ansuz / Ansus / Ós / Áss

Esta runa remete ao divino já pelo nome. Os Ases, os Aesires, os deuses... e entre eles um especial: Odin.
O desenho da runa simboliza a irradiação/emanação divina. Mais especificamente, a inspiração e a inteligência.
Segundo a lenda, quando os deuses criaram o ser humano, Odin foi o responsável por nos dar os dons de pensar e de sentir. Ele nos deu o êxtase, a poesia, a linguagem, as runas. No Skáldskaparmál (discurso para a preparação de um poeta) é contado como o Alfather transformou-se em uma águia e derramou o hidromel sagrado sobre os humanos, compartilhando assim com eles (nós) o poder da criação, do conhecimento e da imaginação.
Por isso ele é conhecido entre nosso povo (os seres humanos) como Odhinn – aquele que dá o Ódh (que é tudo isto que eu tenho falado até agora). Mas este é apenas um entre muitos nomes que ele tem. Outros são Alfathir/Alföthr/Alfather (pai de todos), Valföthr (pai dos escolhidos/enforcados), Hár (Altíssimo), Grímnir/Grimlord (senhor das máscaras, dos disfarces), Oski (o realizador de desejos), entre muitíssimos outros. Doze nomes ele tinha apenas em Aesgaard, mais outros tantos em cada canto durante todas suas viagens.
O interessante é o modo com que os nórdicos amarraram conhecimento e êxtase em uma coisa só, colocando-o como sagrado.
Divinatoriamente falando, esta runa pode ser interpretada como uma bênção ligada à fé ou à esperança. Também como criatividade.
Ansuz pertence à Família de Frey, a dos poderes que o mago deve desenvolver em si próprio, e nela ela é a Inspiração.
No jogo das simetrias, ela é a Inspiração Consciente, Solar, oposta à runa Laguz, o Inconsciente, Lunar.
Ela está na 4ª Coluna. A Coluna da Semente do Divino no Humano. Nela, Ansuz é a Semente, plantada por Odin. Jera é o crescimento da Semente entre a Humanidade. E finalmente Mannaz é o Homem Colhendo os frutos, sua Herança Divina.

Do Poema Rúnico:
“A boca é a origem de toda a linguagem
um pilar de sabedoria e um conforto para os sábios
uma bênção e um prazer para qualquer um.”

Thurisaz / Thiuth / Thorn / Thurse

Seu nome significa espinho, e seu símbolo o demonstra. Além disso seu nome também é Thurse, que é um dos nomes dados aos Gigantes, aos Inimigos da Raça Humana. Esta runa também é relacionada a Mjollnir, o martelo de Thor.
Ou seja, é uma runa violenta, afiada, destrutiva. É muito usada para maldições e para defesa. Defesa sim, defesa agressiva.
Martelo erguido, ela é o próprio phallus irrompente. Thor, além de matador de Gigantes, é um deus da fertilidade.
Cosmologicamente falando, dentro da cultura nórdica, Thurisaz representa o conhecimento da unidade e da divisão de todas as coisas. Que Tudo é Muitos e é Um.
Divinatoriamente falando, essa runa revela conflitos e complexidades de natureza agressiva, assim como problemas psicológicos. Se bem aspectada pode significar o poder que rompe as barreiras e limpa o caminho para o crescimento. Se mal aspectada pode significar a presença de um inimigo, ou algum tipo de espinho no caminho.
Ela é o catalisador regenerativo do futhark, a tendência para a mudança. Nesse sentido ela muito se assemelha à carta da Morte no Tarot.
No jogo de simetrias ela é oposta a Ingwaz. Enquanto Thurisaz é a força direta e agressiva, o que rompe; Ingwaz é a força passiva e sublimada, o que contém.
Na família de Frey – o 1º Aettyr – que é a lista dos poderes que o mago deve desenvolver em si mesmo, esta runa representa a Força Dinâmica.
Nas colunas ela está na 3ª Coluna, a dos Poderes Constituintes do Universo. Ela é a Unidade Dinâmica e Desagregadora, enquanto Isa é a Unidade Imóvel e Integradora e Ehwaz é a Unidade Dinâmica e Integradora.

Do Poema Rúnico:
“O espinho é extremamente afiado
Algo mau para qualquer um que o toque
Incrivelmente severo com todos que chegarem perto.”

Uruz / Úrus / Úr / Úr

Uruz significa na língua antiga “auroch”, que é uma espécie de boi selvagem que habita as terras do norte. Seu desenho representa a proeminência que eles têm sobre os ombros (igual que os touros).
Disso já podemos tirar algumas simbologias:
Uruz é uma runa vigorosa, forte, poderosa e saudável como um touro. Ou melhor, ela é o vigor, a força, o poder e a saúde do Touro Ideal não domado.
Mais que isso, ela é a paciência, a resistência, a persistência, a teimosia, o ruminar, o aguardar do momento certo.
Liberdade e energia. O potencial não dominado. Aquilo-que-pode-ser, que deve ser conseguido pela insistência.
É a potência sexual masculina.
O poder de formar e moldar. Nisso ela simboliza Adhumla, a primeira vaca, que lambeu o gelo salgado e assim criou Bruni, avô de Odin – pai dos deuses -, e que com seu leite alimentava Ymir, o pai dos Gigantes do Gelo.
Assim Uruz é poder de Formação, de Criação, e é esse seu símbolo na família de Frey, a lista dos poderes que o mago deve desenvolver em si mesmo.
No jogo de simetrias do Futhark ela é oposta a Dagaz, que representa o paradoxo, as mudanças drásticas, as revoluções; enquanto Uruz representa as mudanças lentas e seguras.
Nas colunas, Uruz se posiciona na segunda coluna, a coluna da purificação. Ela é a purificação pela água, enquanto Naudhiz é a purificação pelo fogo e Berkano o recipiente onde a purificação é feita.
Água porque no mundo nórdico as qualidades desta runa estão fortemente relacionadas ao mar e seu poder bravio, que era muito presente nas sociedades vikings.

Do poema rúnico:
“O Auroch é orgulhoso e tem grandes chifres.
É uma besta selvagem e luta com seus chifres.
Um grande ranger dos pântanos, uma criatura de vigor.”

Fehu / Faihu / Foeh / Fé

Fehu representa riqueza, prosperidade. Mas não a riqueza no sentido antigo da propriedade física, mas no sentido moderno do termo. Por sua característica móvel, é um arquétipo bastante relativo ao dinheiro no sistema financeiro contemporâneo.

Porém não é apenas riqueza/prosperidade material. Também simboliza a riqueza espiritual. Os dons mágicos. É o pai da família de Frey – o 1º Aettyr – que representa as faculdades que o mago deve desenvolver em si mesmo. É a FORÇA MÁGICA, o primeiro desses elementos.

Fehu é força pura. É força crescente. Ascendente, como os seus braços no desenho que a simboliza.
Fehu significa “Gado Doméstico”, na língua antiga. A força da natureza pacificada e servindo ao homem. Bens móveis. Se você virar o desenho da runa 90º, terá , uma estilização de um animal quadrúpede, do gado.
Por suas posições no Futhark, ela é oposta a Othala, que representa os bens imóveis, a herança, a propriedade fixa, a fazenda, a estabilidade.
Enquanto Fehu é decididamente individual, Othala exala o odor de comunidades.
Já no arranjo de colunas, Fehu forma – junto com Hagalaz e Tiwaz – a primeira coluna, a coluna da origem, a coluna dos senhores/pais de cada família. Enquanto Fehu é a Força do universo, Hagalaz é a sua Forma, a Estrutura, e Tiwaz é o conjunto dos dois: a Força dirigida pela Forma, o julgamento, a justiça.


Do poema rúnico:
“Riqueza é um conforto para todos
ainda que cada um deva gastá-la livremente
se ele quer ganhar honra aos olhos de odhinn”

Introdução

Bem. Resolvi fazer um set de runas novo. Para isso cortei um galho de jabuticabeira em flor, no equinócio de primavera, e a energia com isso liberada foi a primeira base na qual trabalhei para dar poder às runas.

Então reuni o material e separei um tempo para isso: 28 dias, um mês lunar. A começar pela primeira quarta-feira (wednesdey, wodensdag, dia de Odin) de lua nova, que caiu justamente no dia 1 de outubro de 2008.

Nesse dia fiz uma pequena conjuração, pedindo a Odin que abençoasse a produção das runas.
A partir da quinta-feira, 2 de outubro, comecei o trabalho. Uma runa por dia, sendo que ao final de cada Aett (família de runas) terei um dia de pausa para meditar sobre o Aett inteiro. Uma runa por dia, estudando e meditando sobre ela até ser por ela preenchido e então entalhá-la em uma rodela do galho, e pintá-la com meu sangue, sacrifício para Odin e para as Runas.

Ao final de cada dia, após ter entalhado a runa, vou escrever um pequeno texto sobre ela. E esses textos vou publicar aqui neste blog, para compartilhá-los. Pois conhecimento não foi feito para ser guardado, a luz não existe para ser bloqueada.

começo

bem pessoal. estou aqui criando um novo blog, mais um...

este inteira e exclusivamente dedicado a artigos sobre magick, de minha autoria.

espero que gostem.

waes thus heill!