De vez em quando, nas comunidades de runas no orkut, vemos pessoas que mal sabem escrever o português (ou que se sabem, fazem questão de não demonstrar) e que pretendem ser estudantes de runas, ou mesmo se arvoram como Magos Rúnicos.
Vejam bem que eu não me coloco como defensor das formas tradicionais de escrita em detrimento de neologismos ou desconstrucionismos. Não, não sou um conservador a tal ponto. Não estou aqui me referindo ao uso de gírias e estrangeirismos, ou de norma culta e tudo o mais... não, estou falando de coisas mais simples e básicas, como concordância verbal, acentuação, “s” e “z”, abreviações, internetês, miguxês e erros bizarros de português que demonstram não uma tentativa de reconstrução da língua, mas uma ignorância total desta.
Sim, porque tem gente que abusa dos erros de ortografia a tal ponto de deixar seus posts quase ilegíveis, e mesmo quando legíveis, totalmente ridicularizáveis.
Além das advertências do bom senso contra tal atitude – falhas na comunicação, argumentos razoáveis desconsiderados pelas demais pessoas por estarem mal escritos, falta de clareza na transmissão da mensagem – ainda há os argumentos místicos contra isso, especialmente no caso de um candidato a Mago Rúnico.
A Magia das Runas tem como pressuposto (igualmente que a cabala judaica e os mantras sânscritos) a teoria de que o mundo é constituído de vibração, e que essa vibração está condensada em uma série de letras (runas), que constituem a fala humana. Então ao vibrar as letras certas, na ordem certa, junto com um propósito firme, podem-se causar mudanças mágicas no universo. Esta é a origem da Galdr (literalmente – Canto do Corvo) Magick, a magia das Runas, e também dos mantras hindus (lembra da sílaba ohm?) e da veneração judaica ao modo como estão dispostos os versículos da bíblia.
Em uma magia rúnica, se colocar uma letra fora de lugar a magia acabará não funcionando, no melhor dos casos, ou gerando efeitos negativos aleatórios, na pior das hipóteses. E isso que se aplica tão fortemente na magia prática não deixa de ser verdade quando se aplica na vida quotidiana.
Outro ponto é que dentro da Tradição Nórdica uma das pedras angulares é o conceito de Honra. O universo – e os deuses – responde(m) de acordo com a tua postura. Certa vez o hoje falecido Godhi Medhal Mikit Stór-Ljon Odhinnson (que sua alma esteja se banqueteando no valhalla) disse “se você não se atém às tuas palavras nas coisas básicas do dia-a-dia, como espera que o universo vai confiar nelas quando você for soltar um encantamento???”. Estas sábias palavras, dignas de um verdadeiro Godhi (pra quem não sabe, “godhi” é o título dos sacerdotes da religião tradicionalista nórdica), se aplicam muito bem ao caso. Se você costuma desarranjar as palavras no seu uso quotidiano, teus arranjos mágickos com ela – seja para mágicka, seja para simples divinação – serão severamente enfraquecidos.
Por isso alguém que pretende ser um mago das palavras (seja ele runatál, cabalista ou yogi) deve conhece-las muito bem, sabendo todas as regras básicas de sua utilização, escrita e pronúncia. E ser muito cuidadoso ao escolhe-las.
Citações do havamál:
“saiba como talha-las, etc...”
“perguntar bem, responder corretamente
são as marcas de um homem sábio”
“melhor ficar em silêncio (...)”